Grânulos de Fordyce

Grânulos de Fordyce

Publicado em 7 de maio de 2015

Atlas de imagens

Os grânulos de Fordyce são glândulas sebáceas assintomáticas comumente encontradas na mucosa oral, no lábio superior e região retromolar(1). Caracterizam- se por múltiplas pápulas amareladas ou esbranquiçadas de 0,1 a 1 mm de diâmetro que ocasionalmente podem coalescer e formar placas(2) . Somente as glândulas sebáceas visíveis através do epitélio devem ser consideradas como grânulos de Fordyce(3). Em crianças, normalmente, não são notadas até a puberdade, embora estejam presentes histologicamente. Sua incidência aumenta com a idade, principalmente após o estímulo hormonal da puberdade(4). A prevalência em adultos varia de 70% a 85% com uma discreta predominância no sexo masculino(5). Histopatologicamente, as lesões são indistinguíveis das glândulas sebáceas, porém não estão associadas ao folículo piloso e seu ducto se abre diretamente na superfície(2).

É uma entidade de fácil diagnóstico clínico e não são necessários exames complementares. O quadro deve ser diferenciado de outras lesões da cavidade oral: pequenas colônias de Candida albicans, diminutos lipomas, manchas de Koplik, verrugas virais, lesões papulosas mucosas da Síndrome de Cowden, líquen plano e leucoplasia(6). Apesar de seu caráter assintomático e de serem considerados variantes da normalidade, alguns pacientes procuram tratamento por razões estéticas. Existem relatos de casos onde foram utilizados o ácido bicloroacético, laser de CO2, terapia fotodinâmica usando ácido 5-aminolevulínico, isotretoína oral e curetagem com eletrocoagulação (1, 7, 8, 9, 10).

RELATO DE CASO

Um homem de 35 anos apresentou-se com múltiplas pápulas amareladas, assintomáticas, localizadas bilateralmente no lábio superior (Figura 1), desde a adolescência, típicas de grânulos de Fordyce. O paciente foi orientado quanto à natureza benigna das lesões, mas desejava a sua retirada, se possível. Foi então feito bloqueio regional e infiltração local com xilocaína a 2% e epinefrina 1:100.000 e utilizado o laser de CO2 da LuxarTM superpulsado. Utilizou-se uma potência de 5 W, um spot size de 2 mm e duas passadas, removendo-se o tecido necrótico com uma gaze umedecida (Figura 2). Após o procedimento o paciente foi orientado a fazer uso de pomada com fibrinolisina, desoxirribonuclease e cloranfenicol (FibraseTM) 3 vezes ao dia por 10 dias. Em 10 dias houve reepitelização local. Após 1 ano não havia recorrência na área tratada e a resposta estética foi satisfatória (Figura 3).

Fig 1.: Múltiplas pápulas amareladas em lábio superior

Fig 2.: Imediatamente após o procedimento

Fig 3.: Resultado final após um ano

DISCUSSÃO
Os grânulos de Fordyce têm sido pouco estudados na literatura dermatológica. Considerados uma variação normal das glândulas sebáceas e de interesse pelo aspecto estético que aflige alguns pacientes, algumas alternativas têm sido tentadas para sua resolução (1,7,8,9,10). Um relato de tratamento com terapia fotodinâmica com 5-ALA mostrou pobres resultados com significativos efeitos colaterais como dor, eritema, edema, vesiculação e hiperpigmentação pósinflamatória (8). Monk tratou um paciente com isotretinoína oral para acne cística, havendo regressão dos grânulos de Fordyce e recorrência após nove semanas. Um outro relato cita o uso do ácido bicloroacético no lábio superior de um paciente com grânulos de Fordyce que mostrou eficácia resolutiva por pelo menos três meses (1). O uso da eletrodissecação e curetagem foi opção terapêutica em outro caso (10). O laser de CO2 apresenta um comprimento de onda de 10.600 nm localizado na região distante do infravermelho. É utilizado há mais de trinta anos na Dermatologia cirúrgica por sua eficiência em vaporizar, cortar tecidos e produzir hemostasia intra-operatória efetiva (11). Os sistemas ultrapulsados atuais, como o utilizado em nosso caso, permitem controle do aquecimento tissular e ablação precisa (12). Este laser é aplicado com boa resposta no tratamento de várias lesões cutâneas benignas (13, 14, 15, 16, 17) e por isso foi a opção terapêutica no caso relatado. O resultado do tratamento de nosso paciente foi bastante consistente (Figuras 4 e 5), assim como o obtido por Ocampo-Candiani et al., que utilizaram o laser de CO2 em dois pacientes. Considerando a facilidade de seu uso e a precisão com que as lesões são retiradas, acreditamos ser o laser de CO2 uma ótima alternativa para o tratamento dos grânulos de Fordyce.

BIBLIOGRAFIA

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